Comunicação e Desenvolvimento Pessoal

Fofoca: o podcast não autorizado da vida real

Fofoca: o podcast não autorizado da vida real


Comecei a semana ouvindo uma, ocasionalmente, em um restaurante e me peguei pensando sobre essa ação que nasce tímida, mas quando vê, já está com CPF e endereço vazando por aí.
Se existisse um podcast chamado A Vida dos Outros, você escutaria? Bom... talvez você já escute — só que em tempo real, na fila da lotérica, no supermercado ou na academia. Fofoca é isso, um reality show coletivo, onde ninguém pediu para participar, mas todo mundo quer saber o enredo.


Quando se ouve — tenho uma fofoca para contar, metade do cérebro acende como se fosse véspera de feriado. E não é exagero. Pesquisas mostram que quando ouvimos uma boa fofoca, o cérebro libera dopamina — o mesmo neurotransmissor que aparece quando comemos chocolate ou fazemos aquele pedal de qualidade. Ou seja, falar da vida alheia dá prazer. Muito prazer.
Mas nem todo mundo fofoca da mesma forma. Estudos indicam que as mulheres compartilham mais “detalhes” e “contextos”, enquanto os homens são mais diretos — tipo manchete de jornal. Mas quando esses gostam da prática, dizem que são muito mais eficientes que as mulheres no quesito divulgação. Será... ou isso é fofoca da oposição?


O problema começa quando a fofoca deixa de ser entretenimento e vira maldade disfarçada. Aí, meu amigo leitor dessa coluna, tudo muda. Porque existem níveis. Tem a fofoca inocente: “Você viu quem voltou com o ex?” — e tem a venenosa: “Dizem que foi por interesse...”. A primeira diverte, a segunda destrói.
Fofocar é humano. É parte do nosso jeito tribal de viver em sociedade. A pergunta que fica é: você compartilha a fofoca ou só escuta e faz cara de “nossa, que coisa”? Você espalha ou apenas analisa?


E a fofoca da fofoca? Tem gente que nem ouviu a história direito, mas já está na terceira temporada do enredo. Sabe como é, alguém conta uma fofoca, outra pessoa conta a fofoca da fofoca... e quando chega na sua orelha, virou um thriller com traição, mudança de país e talvez um ET envolvido.
Essa mutação da informação é quase poética. Começa com uma frase inocente e vai se reinventando, como quem joga tinta em tela alheia. E o pior, quanto mais absurda, mais gente acredita. Porque a fofoca, não precisa de prova — precisa de emoção.
Mas e a verdade, onde fica nisso tudo?


O mais curioso é que quem altera a fofoca nem sempre faz por mal. Às vezes é só criatividade solta, ou aquele talento nato de dar um “toque de drama” nos fatos. Só que no caminho, o contexto escorrega — e lá se vai a reputação de alguém por causa de um mal-entendido turbinado. No final, entre a fofoca e a fofoca da fofoca… talvez o melhor seja ser o ponto final.
Sem julgamentos, apenas com intuito de autorreflexão, faça o teste: antes de repassar aquela “informação quente” pense: se a história tivesse seu nome no meio, você gostaria que fosse contada? assim ou assada? Cru ou temperada, a história trará alguma indigestão, dor a você? Talvez da próxima vez que ouvir uma história cabeluda, pergunte-se se vale o prazer momentâneo ou a chance de a língua escorregar na casca de banana da ética. Todos corremos esse risco.


E aí, já ouviu alguma fofoca hoje... ou vai dizer que não gosta “dessas coisas”?