Arte e Cultura

Entre Bolhas, Algoritmos e Palcos Vazios

Entre Bolhas, Algoritmos e Palcos Vazios

O cenário musical está pobre? Ou será que simplesmente não estamos conseguindo enxergar toda a potência artística que existe ao nosso redor? A verdade é que vivemos um dos maiores paradoxos da história da música.

Nunca foi tão fácil produzir e divulgar música. Nunca foi tão difícil ser notado.

A internet democratizou o acesso, derrubou portões que antes eram fechados pelas grandes gravadoras e emissoras de rádio e TV. Hoje, qualquer artista pode gravar um álbum inteiro no quarto de casa, publicar nas plataformas digitais e, com uma boa estratégia, alcançar o Brasil e o mundo sem sair da própria cidade.

O curioso é que, muitas vezes, esse artista conquista o sucesso lá fora antes mesmo de ser reconhecido no próprio bairro. Um paradoxo moderno, fruto dessa revolução digital que mudou para sempre a indústria da música.

Quer um exemplo? Vamos falar de Luísa Sonza. Nascida em Tuparendi, uma pequena cidade no noroeste do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina. Estive lá recentemente e, sinceramente, é difícil imaginar que de um lugar tão remoto tenha saído uma artista que hoje figura entre os maiores nomes da música pop brasileira.

Luísa é filha da internet. Foi lá que ela encontrou o palco que a projetou para o Brasil antes mesmo de ser reconhecida no próprio estado. Ela entendeu a lógica das redes, dos algoritmos, da influência digital, e venceu.

Mas nem sempre talento e visibilidade andam de mãos dadas. Ainda existem muitos artistas que caminham à margem dos algoritmos, fora das tendências digitais, e que fazem música com alma, com verdade, mas seguem invisíveis ao grande público.

Cito aqui um exemplo que me surpreendeu. Em uma noite qualquer, nos bares de Tramandaí, conheci a dupla "Os Danadões". Não, não é sertanejo. Nem modinha. Eles fazem uma música popular brasileira cheia de identidade, com aquele tempero nostálgico dos anos 60, letras que são verdadeiras crônicas do cotidiano e melodias que abraçam quem escuta.

Dois músicos de talento absurdo, com presença, com voz, com história. E, ainda assim, desconhecidos da maioria.

É nesse ponto que a reflexão se torna inevitável. O que é sucesso hoje? Será que estamos olhando para os lugares certos? Ou será que estamos cada vez mais presos em bolhas, onde os algoritmos só nos entregam aquilo que supostamente queremos ouvir enquanto um mundo inteiro de música, arte e cultura segue passando despercebido?

O que é bom e o que é ruim? Talvez isso nunca tenha sido tão relativo. Talvez hoje isso seja apenas uma questão de qual bolha você escolhe (ou é escolhido) para viver.

Se você não conhece a história de Luísa Sonza, digite o nome no Google. Em segundos, saberá tudo, da vida pessoal à discografia, agora, se você gosta de música com alma, feita de forma independente, te deixo um convite: procure os clipes de "Os Danadões". No mínimo, você vai se surpreender.