
No sul do Brasil, o inverno não é uma estação, é uma provação. São dois meses (que muitas vezes viram quatro) em que o frio parece morar dentro dos ossos, e a dieta… bem, a dieta congela junto com a gente.
E o problema não é só o frio. É o combo gastronômico que ele traz: fondue de queijo, pinhão, sopa de capeletti, chocolate quente com chantilly… vinho, tudo isso anunciado como “comida para aquecer”. Aquecer? Sim, mas junto com o coração e o corpo, aquece também a balança, que vai sofrendo bullying, a coitada.
Enquanto no resto do Brasil a dieta pode ser um simples “saladinha com frango grelhado”, aqui no sul isso soa como piada. Imagine comer alface crocante quando o vento gelado te lembra que tu podias estar comendo uma carne de panela com polenta? É pedir demais do corpo humano. E sempre tem aquela desculpa clássica: “é para esquentar o corpo!”. O problema é que, quando o corpo esquenta, o botão da calça já não fecha.
Comecei a semana com a decisão de fazer uma dieta, dessa vez a do jejum intermitente, que é como se inscrever num reality show de sobrevivência: você entra cheia de confiança, mas logo descobre que não é tão simples quanto parece. A ideia é fácil: passar 14, 16, 18, 20 horas sem comer. Na prática? Você descobre que o relógio nunca andou tão devagar. O desafio é fazer por uma semana para testar. Sei que tem muitos benefícios, mas cada corpo reage diferente. O meu está perdido, se ele falasse diria— “Ei pessoa, acabou o mundo? Até ontem tu me superlotou de um café bem gostoso com frutinha, pãozinho, ovo e às vezes até um bolinho. E agora do nada, me dá um perdido desse… só na água e um cafézinho mixuruca, sem nada de acompanhamento?— Eita, te apruma muié!!!”
Para ser sincera, no primeiro dia, tudo vai bem. Você acorda e pensa: “estou zen, plena, focada”. Duas horas depois, está fugindo de qualquer imagem, pessoa que esteja ingerindo algo sólido e olhando para o microondas como se fosse um portal a espera da saída da felicidade dali, materializada em comida.
O problema é que a gente sempre começa o jejum com aquele espírito guerreiro, mas esquece dos perrengues do dia a dia. Fazer suas tarefas, com o estômago roncando é basicamente um teste de paciência. No fim das contas, espero que o jejum intermitente funcione para mim. Ao menos estou fazendo um treino de disciplina e de estabilidade emocional para manter o bom humor pela manhã e não responder atravessado com —”Bom dia porquê???”—. E a quem possa interessar: Se eu já começar uma conversa, um tanto seca, sem responder o teu bom dia, releva, não se magoe. Não é contigo. É só minha alma fora do corpo tentando entender onde está.
Mas tudo isso porque moro no sul do Sul do Brasil. E aqui o inverno é isso: uma luta entre a vaidade e a sobrevivência térmica. A boa notícia é que, pelo menos, o casaco de lã esconde tudo, a legging aprisiona as “mantas”. A má notícia é que se essa abandonar a gente, amiga leitora, a cena é assustadora. Mas como tudo passa, a primavera sempre chega, e aí… bom, aí é conteúdo para uma outra coluna.